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Naufrágio do Significado da Vida

por O Gil, em 30.06.17

Um pouco por todo o mundo

Os homens velhos morrem

E os homens novos nascem.

 

Um pouco por todo o mundo

A felicidade alterna com a tristeza

Ao ritmo do esquecimento.

 

Um pouco por todo o mundo

Existem homens,

Existem mulheres,

Existem leões e mosquitos,

Comem-se pratos exóticos

E descem-se ruas estreitas

Em busca de significado.

 

Algures neste mundo,

Nos poucos espaços onde ainda não há homens,

O significado da vida naufragou,

Enquanto fugia daqueles que o caçavam,

Perseguindo o seu reflexo na água.

 

Um pouco por todo o mundo

Sente-se a ausência do significado,

Não se encontra a sua memória,

Não se sabe da sua existência.

 

O significado da vida naufragou.

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publicado às 18:53


'The Truman Show' e a Ilusão da Vida

por O Gil, em 17.06.17

AVISO: spoilers pesados para o filme 'The Truman Show'

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Há na Vida humana uma qualidade sempre presente e quase permanente; a sensação de que a existência que engloba essa vida é uma ilusão, e a própria vida também, por consequência. A dúvida sobre a natureza da nossa realidade, ou se essa realidade não é apenas uma fantasia, pode tomar diversas formas.

 

Podemos considerar que a vida é uma ilusão, pois, segundo os preceitos da religião que seguimos, o período entre o nascimento e a morte é apenas um teste para aceder à verdadeira realidade; um paraíso, uma sala de jantar com os deuses, ou um patamar abstrato de consciência plena.

 

A vida pode ser percecionada como uma ilusão se nos considerarmos solipsistas filosóficos, o que significa que interiorizamos tudo o que é externo sempre em dúvida, acreditando que a única coisa que de facto existe é a nossa mente.

 

Podemos simplesmente considerar que todas as perceções, todas as reações, todos os pensamentos e ações são um elaborado esquema de proporções cósmicas, onde os valores, crenças e ideias são apenas uma complexa interação entre partículas subatómicas, e as pessoas são agregados automatizados destas componentes do mundo quântico.

 

Podemos ainda optar por interpretar o mundo que nos rodeia e a nossa vida como uma encenação de dimensões massivas, um teatro para a humanidade, onde nós somos a personagem principal e todos os outros atores são secundários na história da nossa vida. E é esta abordagem que ‘The Truman Show’ explora, e ao fazê-lo abre uma janela que nos permite em simultâneo vislumbrar as hipotéticas variedades conceptuais que a nossa vida pode tomar e desconstruir a estrutura da nossa realidade pessoal.

 

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Com pleno controlo e conhecimento dos seus temas, ‘The Truman Show’ segue o seu caminho cinemático e desenrola-se, recorrendo à narrativa para aprofundar o seu grande objetivo. Seguimos a vida de Truman Burbank, um típico “white-colar worker”, a primeira criança a ser adotada por uma empresa, e no decorrer da sua vida pessoal e profissional concluímos que o mundo em que vive é uma utopia. Não há guerras nem crimes, não há pobreza nem incómodos sem-abrigo, não há a subtil opressão debilitante de uma sociedade normal e há, acima de tudo e para todas as pessoas, felicidade. Isto, até a entropia se revelar e o percurso natural dos eventos ser perturbando, dando inicio ao grande efeito borboleta que leva ao colapso da realidade fictícia em que Truman reside.

 

É através destes acontecimentos que podemos analisar esta versão da ilusão da vida. Neste universo, uma gigantesca empresa deu origem a todo um cenário, populado por atores com as suas histórias e personalidades criadas à mão, onde a progressão da vida de um individuo é explorada para, no final de contas, gerar lucro. Na verdade, toda esta narrativa é um reflexo da obsessão no nosso mundo por 'reality shows', onde a vida das pessoas é dada a ver ao mundo inteiro, numa tentativa de imitar a realidade, para gerar lucro para a empresa e acionistas. 

 

Tal como no mundo real, no final do caminho de Truman não apenas se desfaz a ilusão construída, como também colapsa o véu que oculta o propósito do programa televisivo em que uma vida é exposta, revelando o mero egoísmo que guia os donos do programa e da empresa, apenas preocupados com retornos financeiros, e completamente desligados das implicações morais e das consequências psicológicas para o individuo.



Mais assustador que assistir tudo isto em forma de filme, é sabermos que é possível no nosso mundo, o que evidencia a temática do filme que procura afirmar que não interessa apenas a ilusão que encobre a generalidade da nossa vida, existem também pequenas ilusões e manipulações constantes que deturpam o sentido da nossa vida e nos roubam dos nossos verdadeiros interesses pessoais, em favor de algo que não nos afeta positivamente. 

 

No fim, 'The Truman Show' mostra ser uma exploração filosófica sobre a natureza da realidade, e uma dura crítica à nossa sociedade, espelhando acontecimentos e obsessões reais. De um certo ponto de vista, e em termos práticos, o filme sugere implicitamente que o importante não é decifrar se a vida é real ou apenas uma elaborada ilusão, o importante é sabermos olhar para aquilo que nós é dado, para aquilo que nos é apresentado à nossa frente no dia a dia, e termos a capacidade de refletir sobre as nossas ações, sobre a nossa sociedade, sobre as suas normas e sobre o nosso comportamento dentro dela. O grande objetivo do filme, é indicar-nos que temos o poder de escolher o mundo em que vivemos, mesmo que seja necessário derrubar as barreiras do aceitável, a verdadeira ilusão da modernidade. 

 

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publicado às 22:05


Doce e Amargo faz o Ser

por O Gil, em 17.06.17

Doce ser,

Amargo ser,

Posso eu ser um atributo singular?

Posso eu ser uma sobre-simplificação?

Como posso eu parecer como vocês?

 

Irmãos e Irmãs, 

Quem de nós é apenas o que diz ser?

Algum de nós é realmente tão trivial como parece ser?

Sou eu especial, ou radicalmente desligado do mundo que me rodeia?

Vejo-vos ocultos na sombra das vossas farsas,

Tão simples nas suas aparências, 

Tão mórbidas na sua falsidade. 

 

Não me refiro aos sorrisos entalados

E às lágrimas de crocodilo.

Falo das histórias, 

Dos detalhes,

Das dores,

Dos prazeres,

Uns agradáveis e outros desagradáveis,

Alguns constrangedores,

E uns quantos,

Profanos.

 

Eu reconheço os meus atributos,

As complexidades que me rodeiam,

Que me englobam,

Mas conseguirão reconhecer,

Tudo o que faz parte de vocês?

Será que ocultam quem de facto são,

Ou será que o que vejo,

É tudo o que são?

 

 

 

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publicado às 20:50


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